quarta-feira, 22 de junho de 2016

UMA GAROTA MUITO SOFISTICADA

                                  

          Em 1961 consegui ser aprovado para um emprego na PETROBRÁS – Região de Produção da Bahia S/A.

            Fui designado para assumir meu cargo juntamente com mais 06 colegas entre funcionários mais antigos e os novos contratados, (os recrutas como éramos chamados) nessa equipe a média de idade dos integrantes, não passava dos 25 anos.

           LOCAL DE TRABALHO

           Fomos instalados em uma antiga casa, que ficava localizada em um nível mais alto da rua principal da Cidade de São Sebastião do Passe no Estado da Bahia, bem perto da Igreja Matriz, a casa tinha grandes salas e quartos, aonde foram improvisados o Escritório e demais setores concernentes aos trabalhos.

            Tínhamos uma visão privilegiada da rua, e em momentos de intervalo do trabalho reuníamos na área da varanda, cercada por um muro bastante desgastado e ficávamos conversando e fazendo brincadeiras uns com os outros, como é normal para pessoas jovens.

           O APARECIMENTO DA GAROTA

            Logo nos primeiros dias das nossas atividades, estávamos nos preparando para encerrarmos mais um dia de trabalhos, pelo fim da tarde, quando ouvimos um dos colegas gritar de uma maneira bem debochada, gente vem ver que coisa linda está passando por aqui! Os que estavam disponíveis logo se apresentaram, e eu estava nesse meio, e vimos passando pela calçada no canteiro que dividia as pistas da rua, uma garota que se dirigia no sentido da Igreja Matriz.

           Seu andar realmente chamava à atenção por seu balanço e maneiriçe, Alguns dos colegas ficaram encantados e usavam todos os tipos de elogios, um mais ousado chegou a dizer: mas o andar dela é muito gostoso!

            Eu pessoalmente pensei realmente o andar dela chama a atenção, porém no todo não faz meu tipo, pois nunca me interessei por mulheres muito magras e desbundadas, mais parecendo àqueles modelos quase cadavéricos que desfilam nas passarelas de modas.

             A agitação com a passagem da garota em frente ao nosso local de trabalho duas três vezes ao dia, continuou a deixar a turma frenética e animada, porém ninguém se habilitou a conquistar a beldade.

            A CHEGADA DE NOVO INTEGRANTE À EQUIPE

            Três meses depois, foi preciso a vinda de mais um funcionário com experiência para nossa equipe, todos gostaram dele, pois se tratava de excelente pessoa, além de eficiente, imediatamente assumiu o cargo de Encarregado do Escritório.

                 Mais logo no primeiro dia de trabalho do colega, no encerramento das atividades, ouvimos novamente aquele chamado já bastante conhecido: vem gente ela está passando! E todos correram ansiosos, segundos depois veio também o novo colega, me preocupei mais com sua reação para ver de que forma reagiria e notei seu semblante ficar em uma atitude muito séria, sem prestar nenhuma atenção aos comentários dos colegas, observei naquele momento que algo muito forte tinha passado em sua cabeça.

                 Nos dias seguintes ele começou a fazer perguntas a respeito da garota para os colegas que pouco sabia informá-lo.

                depois de algumas semanas, soubemos que ele tinha dispensado a moradia grátis nos acampamentos que era oferecida pela Empresa e tinha alugado uma casa para se estabelecer, mas o que me deixou curioso foi que a casa ficava localizada por trás da Igreja Matriz, bem próxima à residência da garota de andar provocante.

               COMEÇO DA PAIXÃO

                Logo surgiram os comentários dos mais enxeridos, dizendo que o colega (vou dar o nome fictício de João M) estava completamente apaixonado pela garota de andar provocante, chegando mesmo a brincarem que ele arriou os quatros pneus, como se falava na época.

                 E veio a confirmação dos mexericos, quando se soube que realmente o João M tinha conseguido fazer uma amizade com a garota, que depois se transformou em um namorico, talvez por ser o mais velho da turma já com os seus 30 anos, usou da experiência e conseguiu fisgar a beldade.      

              ENFRENTANDO A FERA (o pai da                    amada)

              O que aconteceu a seguir nos causou mais espanto, quando soubemos que enfrentou o pai da garota para pedir permissão para o namoro na porta, que era o procedimento usado naquela época, mesmo sabendo da resistência do velho no que dizia respeito à aproximação de rapazes pretendendo cortejar sua filha, sem levar em conta a importância que tinha na cidade, que como se diz no interior que a hierarquia das autoridades no local é na seguinte ordem: o Prefeito, Padre, Delegado e em quarto lugar vem o Coletor, que era o Cargo ocupado pelo pai da menina, mas mesmo com todos os obstáculos, João M conseguiu seu objetivo.

                Porém durou bem pouco tempo o tão desejado namoro para o João M, não que houvesse qualquer deslize de sua parte, conforme os fofoqueiros foram criados diversos motivos para o desenlace, uns diziam que a menina caiu fora em virtude da diferença de idade, pois existiam mais de dez anos, outros já falavam que foi por conta da feiura do rapaz, o que também era exagero, embora não fosse bonito em compensação vestia-se bem com boas roupas, sapatos lustrosos, apesar de ser um pouco cafona na verdade possuía uma boa aparência.

                 A teoria mais aceita e logo depois comprovada foi a do aparecimento de um bonitão na horta da garota.

            A turma em respeito ao colega, deixou de ser tão exaltada quando da passagem da beldade durante os poucos meses em que durou o tal namoro, alguns olhavam, mais com certa reserva.

             Depois de todos estes acontecimentos, só restou muita tristeza e sofrimento para o pobre homem que ficou muito cabisbaixo e magoado, cheguei a ter dó do colega a ponto de pensar que o episódio merecia até um poema ou mesmo uma música, com esta ideia comecei a tentar escrever alguns versos baseados nos acontecimentos e conseguir o seguinte resultado:

                  OS VERSOS

              Garota quando você passa todos correm para ver

              Pois você com sua graça pisa macio pra valer

              Menina sofisticada afoita e sem juízo

              Este mundo de meu Deus não é só de paraíso

              Com este seu jeito de andar vai criar complicação

              Vai deixar sem esperança o meu pobre coração


              Estes versos nunca chegaram ao conhecimento do João M, pois poderia interpretar como uma gozação com sua cara.

               Anos depois, já trabalhando em outro local da Empresa, fiquei sabendo por alguém notícias do colega desiludido, que continuava trabalhando na mesma cidade e que depois de se desiludir totalmente de reconquistar a mulher pela qual se apaixonara, tomou a decisão de levar para viver maritalmente, uma das mulheres de um brega (prostíbulo) aonde frequentou por muitos anos.

                   Não posso confirmar a informação, pois não acompanhei o acontecimento de perto, esta foi à última vez que tive notícias do pobre desiludido colega.

                O COMEÇO DE TUDO

                Depois do pequeno e simples poema que conseguir bolar em cima do triste drama do colega João M, achei que poderia continuar escrevendo algumas coisinhas, porém  por passa tempo, sem nenhuma pretensão de ser Poeta ou Escritor, simplesmente um "ESCREVINHADOR" (qualquer dúvida com escrevinhador, ver dicionário).

                    Este conto não é ficção, é verdadeiro, apenas com um pouco de dramatização

                                                        FIM


Coleção - CONTOS RÁPIDOS - nº 001 – 1962

Jan/mota.


              Dedicado à turma que implantou a Subsistência (cantina) da Petrobrás na Cidade de São Sebastião do Passe – 1961/1967 – Odmar Mesquita, Castelo Branco,  Jurandir Gradim,  Jurandir Mota, João Garcez, João Mesquita, Décio, Sérgio e Paulo Ludwig.

.                                                                                                                                                                                                                            

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